sábado, 9 de agosto de 2025

AVES PROVAVELMENTE EXTINTAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO VII UIRAÇÚ – GAVIÃO-REAL – HARPIA

 

AVES PROVAVELMENTE EXTINTAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO VII

UIRAÇÚ – GAVIÃO-REAL – HARPIA

HARPY – EAGLE

Harpia harpyja

Accipitridae

 
 
 
                                         www iucnredlist org species 22695998 197957213

Situação global IUCN = Vulnerável

Situação no Brasil (ICMBIO 2018) = NT

Provavelmente extinto no RJ

Situação em outros estados brasileiros: ES, MG, PR, SC, RS (criticamente ameaçada); SP (ameaçada).

Principais ameaças

Os dados sugerem que a espécie esteja em rápido declínio devido à perda e degradação florestal (fragmentação do habitat), perseguição e caça ilegal.

Embora a harpia pareça ser bastante tolerante a florestas degradadas e paisagens modificadas pelo homem, ela não costuma ser encontrada em paisagens com menos de 50% de cobertura florestal remanescente e geralmente não atravessa clareiras florestais com mais de 500 m. Além disso, a preferência da espécie por árvores muito grandes como locais de nidificação a torna potencialmente suscetível à exploração madeireira seletiva. Portanto, pode-se presumir que o tamanho populacional da espécie esteja diminuindo à medida que seu habitat florestal é perdido.

Além disso, a espécie está sujeita à caça e perseguição em grande parte de sua área de distribuição, o que pode ter um impacto maior no tamanho populacional da espécie do que o desmatamento em algumas áreas.

Distribuição

Planícies tropicais do sul do México (sul de Veracruz) e da América Central às regiões florestadas da América meridional a leste dos Andes, desde os seus limites setentrionais (Colômbia, Venezuela, Guianas) até a Bolívia, Paraguai e extremo norte da Argentina. Na porção oriental do Equador e do Peru. No Brasil, região amazônica e todas as porções restantes densamente providas de florestas (estados marítimos da Bahia a Santa Catarina), em áreas protegidas da Floresta Atlântica, e recentemente no Rio Grande do Sul. No Brasil existem registros também para o Cerrado e o Pantanal. (Olivério Pinto, 1978; IUCN, 2021).

Possui uma extensa distribuição no sul do México, Guatemala, Belize, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Equador, Peru, Bolívia, Brasil, Paraguai e nordeste da Argentina (IUCN, 2021).

Acredita-se que esteja local ou regionalmente extinto em grande parte de sua antiga área de distribuição, incluindo a maior parte da América Central e do Norte, incluindo El Salvador, a maior parte da Mata Atlântica no Brasil, partes da Bolívia e partes da Venezuela ao norte do rio Orinoco. Na Argentina, é provável que tenha sido extinto de Formosa, Salta e Jujuy. Extinta em El Salvador (IUCN, 2021).

Habitat e Ecologia

Ocorre em florestas tropicais de terras baixas, tipicamente abaixo de 900 m, mas localmente até 2.000 m. Parece ter alguma tolerância a florestas degradadas e paisagens modificadas pelo homem, desde que a matriz florestal permaneça e haja árvores muito grandes para locais de nidificação e disponibilidade suficiente de presas. Utiliza fragmentos florestais dentro de um mosaico de pastagens/florestas para caça. No entanto, é mais provável que seja encontrado em florestas com pelo menos 70% de cobertura e tende a evitar áreas de terra cultivada (IUCN, 2021).

Um estudo no Arco do Desmatamento no Brasil (*) constatou que a espécie requer presas vertebradas do dossel para reprodução bem-sucedida. Nidifica em árvores muito grandes de espécies como Paineira, Ipês, Castanha-do-Pará, Tamboril, Cedro-da-Amazônia, entre outras.

Na Amazônia, parece nidificar em apenas 28 espécies de árvores. Nidifica tipicamente abaixo de 310 m de altitude.

 

                                                            Castanheira-do-Pará

 

 (*) Arco do Desmatamento é a região onde a fronteira agrícola avança em direção à floresta e também onde se encontram os maiores índices de desmatamento da Amazônia. São 500 mil km² de terras que vão do leste e sul do Pará em direção oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre.

 


                                            Mapa distribuição - IUCN Red List

 

Descrição

A harpia é uma águia enorme. As fêmeas são muito maiores que os machos. As asas são arredondadas, com as secundárias muito largas. Cauda longa. Tarsometatarso sem penas, muito sólidos (forte). A circunferência do tarsometatarso nas fêmeas excede a de qualquer outra ave de rapina. As garras também são muito grandes; um pouco mais grossas e menos aguçadas do que nas águias de botas, tais como Stephanoaetus ou Oroaetus. Tem a crista (topete) dividida em duas partes. O imaturo é um tanto diferente do adulto, com a cabeça e partes inferiores (pescoço, peito e abdome) brancas.

O gênero Harpia é intimamente relacionado apenas ao gênero Morphnus, o falso-uiraçu.

Fisicamente a harpia é a mais formidável águia do mundo. É uma ave de floresta tropical virgem, de terras baixas e contrafortes, e parece ser notavelmente discreta para uma ave de seu tamanho, ofuscada pelas enormes árvores das florestas tropicais.

Tabela 1. Medidas e peso

PARÂMETROS

MACHO

FÊMEA

Asa (mm)

543-580

583-610

Cauda (mm)

372-412

417-420

Tarsometatarso (mm)

114-130

-

Peso (Kg)

4,0 – 4,6

+/- 9,0

Fonte: (Brown & Amadon, 1989).

Características de campo

Dificilmente pode ser confundida com qualquer outra ave, exceto com o falso-uiraçu, porém é uma ave mais robusta, com crista dividida, não única, e com preto no peito.

Vocalização

Aves adultas no ninho emitem, às vezes, um lamento alto "uiiiii-ooooo". Um imaturo emplumado, talvez com oito a dez meses de idade, mas ainda dependente dos adultos, emitia gritos agudos de fome frequentes, "uiiiiii-uiiiiiiii", repetidos de dez a doze vezes; esses chamados ocorriam cerca de dez vezes por hora. Jovens e adultos também emitem vários coaxos e miados mais suaves (Brown & Amadon, 1989).

Hábitos gerais

Não é muito claro se planam e cantam no início do ciclo de nidificação, embora já tenham sido relatadas seis aves ao mesmo tempo planando por uma passagem em uma área de montanhas baixas. Normalmente não voam acima da floresta, sempre abaixo da copa das árvores.

Reprodução

Os ninhos são grandes estruturas de gravetos, construídos numa bifurcação principal de árvores enormes. A árvore Ceiba petranda é a preferida, e os ocasionais exemplares enormes que se elevam acima da copa da floresta são selecionados. Esta árvore é do mesmo gênero da paineira rosa, Ceiba speciosa, que também pode atingir os 30 metros de altura. Os ninhos são construídos principalmente em árvores mais altas, geralmente em forquilhas de galhos grossos acima do dossel. Podem medir um metro e meio de largura, um metro e meio de altura e uma tigela de quinze centímetros de profundidade. Cerca de sessenta centímetros de material novo podem ser adicionados aos ninhos antigos. Os ramos têm aproximadamente 2,5 centímetros de diâmetro. O ninho é forrado com folhas verdes e grandes vagens de sementes de dezoito centímetros de comprimento, e eventualmente pode conter pelos de preguiça (Brown & Amadon).

Os ovos (n=4) medem 71-80 X 57-60 (76 X 59 mm). Eles geralmente apresentam manchas amareladas tão intensas que é difícil dizer se a casca está manchada quando o ovo está fresco (Brown e Amadon). A postura ocorre entre setembro e novembro na Amazônia, e consta de dois ovos de coloração branca pesando entre 120 a 150 gramas. A incubação dura cerca de dois meses, e geralmente apenas um filhote sobrevive (Sick, 1997).

Alimentação

Capturam principalmente os mamíferos arborícolas como macacos, preguiças, gambás, quatis e ouriços. Vão ao solo para capturar cutias. Aves grandes, como cracídeos (mutuns, jacutingas) e araras são predadas ocasionalmente. Preda também repteis como os iguanas.

Referências

AGUIAR SILVA, F. H; SANAIOTTI, T. M; LUZ, B. B. Food habits of the Harpy Eagle, a top predator from the Amazonian rainforest canopy. Journal of Raptor Research, v.48, n.1, p.24-34, 2014.

EASON, P. Harpy eagle attempts predation on adult howler monkey. Condor, v. 91, p. 469-470, 1989.

GALETTI, M; CARVALHO JR, O. Sloths in the diet of a Harpy Eagle nestling in eastern amazon. The Wilson Bulletin, n.112, p.535-536, 2000.

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho daFauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume III - Aves. In: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. (Org.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 709p.

LÓPES, R. M. Biologia e Conservación del águila harpia (Harpya harpija) en Equador. Tesis Doctoral. Facultad de Ciencias. Departamento de Ciencias Ambientales e Recursos Naturales. Universidade de Alicante. 2016.

MARIGO, L. C. Harpia na Serrinha do Alambari. Atualidades Ornitológicas, n. 109, p. 7, 2002.

PACHECO, J. F.; FONSECA, P. S. M. da; PARRINI, R. Coletânea cronológica de registros recentes de Harpia harpyja (L.) para os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Atualidades Ornitológicas, n. 111, p. 7, 2003.

Plano de Ação Nacional para Conservação de Aves de Rapina. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Série Espécies Ameaçadas No. 5. Brasília: ICMBIO, 2008, 136p. 

RETTIG, N. L. Breeding behavior of the Harpy eagle (Harpia harpyja). Auk, v. 95, n. 4,
p. 629-643, 1978.

 ROBINSON, S. K. Habitat selection and foraging ecology of raptors in Amazonian, Peru.
Biotropica, v. 26, n. 4, p. 443-158, 1994.

SICK, H. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.