sexta-feira, 17 de março de 2017

ATRAINDO AS AVES PARA JARDINS E QUINTAIS

ATRAINDO AS AVES PARA JARDINS E QUINTAIS

Uma das formas de tornar mais fácil a observação das aves é fazer com que elas se aproximem de locais previamente escolhidos e sintam-se seguras de tal forma que aceitem nossa presença naturalmente.

Coereba flaveola no bebedouro para beija-flores

Os quintais e os jardins das residências ou mesmo as grandes áreas comuns dos modernos condomínios residenciais são locais onde facilmente consegue-se instalar comedouros, bebedouros e ninhos artificiais para atração das aves. Um jardim ou um quintal são pequenos ecossistemas encravados dentro das áreas urbanas das cidades, e nos proporcionam um local para conexão com a natureza e relaxamento. De forma semelhante a avifauna busca nesses espaços oportunidades de alimentação e abrigo. Algumas pequenas modificações podem tornar os jardins e quintais mais atrativos para as aves, que em troca conferirão cor, som e movimento ao local e, além disso, as pequenas aves irão ajudar a controlar pragas das plantas comendo lagartas, pulgões, e até mesmo os pequenos caramujos de jardim, enriquecendo o próprio cardápio e livrando as plantas de hóspedes indesejáveis.



Entretanto, antes de qualquer coisa, pense em privilegiar um ambiente natural, com espécies de plantas que atraiam as aves, por oferecerem alimento ou abrigo. Um jardim sem frutas e flores pode até ser um local de descanso, mas pode ser muito mais que isso com plantas frutíferas.

Guabirobinha-da-restinga

Árvores que produzem frutos pequenos geralmente são as favoritas, tais como o araçá, a uva-do-Japão, jabuticaba, pitanga e a amora. Aroeira e fruta-de-sabiá são indispensáveis. As goiabeiras e mamoeiros, embora tenham frutos maiores, também são bastante apreciadas. 

Fruta-de-sabiá, também conhecida como marianeira.

As plantas com ramagem densa e ramificada são próprias para fazer ninhos, e as espécies de flores nectaríferas como os hibiscos e o camarão são atrativas para os beija-flores. Plantas que florescem o ano inteiro garantem a presença constante dessas aves.

Aroeira pimenteira com frutos. Atrai sanhaços, saíras, tiés, sáis, gaturamos e sabiás.

Se as plantas que fornecem alimento frutificarem ou florescerem no inverno, será ainda melhor, visto que nessa época geralmente a oferta de comida é escassa e o jardim se tornará um ponto de referência para as aves.

Um pequeno lago é bastante atrativo para as aves, além de embelezar o jardim.

Muitas aves tomam banhos de areia, que ajudam a eliminar os ectoparasitas. Além disso, eles precisam ingerir alguns grânulos (pedrinhas) regularmente. Estes grãos de areia se alojam na moela, um órgão especial que funciona como dentes, quebrando ou moendo sementes duras, facilitando a sua digestão. Mantenha um local com areia sempre sob o sol, e revire regularmente para manter o material limpo. O sol aquece a areia eliminando microrganismos indesejáveis. É interessante adicionar à areia, farinha de cascas de ovos ou farinha de conchas para tornar a areia uma rica fonte de cálcio.


Os beija-flores são facilmente atraídos por garrafas contendo água açucarada e permitem aproximação suficiente para boas fotos. Entretanto alguns cuidados devem ser tomados na manutenção destas garrafas de forma a evitar-se a proliferação de microrganismos prejudiciais às aves. As garrafas devem ser espalhadas em vários pontos do quintal ou jardim e mantidas sempre nos mesmos locais de forma que as aves não tenham dificuldades para encontrá-las. A alimentação dos beija-flores inclui além do néctar um percentual bastante elevado de artrópodes que eles capturam na vegetação.
         Uma fórmula eficiente é produzida utilizando-se 1 kg de açúcar ao qual acrescentamos um pacote de pó para refresco de morango (25 gramas) e 1 grama de propionato de cálcio (que é um antifúngico). Essa mistura é então utilizada para preparar a solução que será colocada nas garrafas de alimentação, na proporção de cerca de seis colheres de sopa para um litro de água fervida e filtrada. Se não for utilizada de imediato a solução deve ser mantida na geladeira.
           Para obter a coloração vermelha pode ser usada a beterraba, ao invés do pó para refresco. Parta uma beterraba média em oito pedaços e coloque dentro de uam vasilha com 2 litros de água filtrada e ponha na geladeira. Acompanhe a mudança na coloração e passe a utilizar quando atingir uma coloração avermelhada não muito forte. Os demias passos são os mesmos de quando utilizar o pó para refresco de morango.
         As garrafas devem ser lavadas diariamente com detergente neutro e enxaguadas com uma solução de hipoclorito de sódio a 2% (20 ml de água sanitária em 1 litro de água) e em seguida receber um novo enxágue com água pura para ser posta a secar de preferência ao sol. Uma vez por semana as garrafas devem ser submetidas a um tratamento com hipoclorito de sódio a 5% (50 ml de água sanitária em 1 litro de água) mantendo-as submersas durante 24 horas, sendo posteriormente esfregadas com escova para retirar as crostas que tendem a se formar em torno dos orifícios de alimentação. O ideal é que existam dois conjuntos de garrafas. Enquanto um conjunto estiver em uso o outro será submetido à limpeza e desinfecção. Com estes cuidados simples garantiremos que nossos visitantes estejam sempre saudáveis.

Bebedouro muito bonito, mas pouco prático

Outras aves como as chiquitas (Coereba), os saís azuis (Dacnis), algumas saíras (Tangara) e até gaturamos (Euphonia) costumam aparecer também para compartilhar as garrafas com os beija-flores. Em algumas ocasiões é necessário aumentar o número de garrafas para evitar as brigas entre os consumidores.
As formigas e as abelhas também costumam frequentar as garrafas, mas não deve ser motivo de preocupação, a não ser que o número seja muito elevado e possa vir a prejudicar as aves ou mesmo causar acidentes com as pessoas. Para evitar o acesso das formigas basta colocar um algodão embebido em óleo no fio que sustenta a garrafa de forma que constitua uma barreira física pegajosa no caminho das formigas. As abelhas e os maribondos são mais difíceis de controlar.
Nunca use inseticidas!
As garrafas costumam ser visitadas à noite pelos morcegos comedores de néctar, o que também não constitui um problema. Entretanto, se quiser a visita dos morcegos basta retirar as garrafas ao entardecer.
         Existem diversos modelos de garrafas (alimentadores) para beija-flores disponíveis no comércio, e fabricados com vidro ou plástico. É bom ter em mente que quanto mais simples for a garrafa mais fácil será a manutenção.

         Para os comedores de sementes como os pardais (Passer), canários da terra (Sicalis), coleirinhos (Sporophila), rolinhas (Columbina) é necessário construir um alimentador que seja seguro contra predadores domésticos, especialmente os gatos.
         O alimentador para este grupo de aves deverá ser construído com um poste de madeira com cerca de 1,50 m de altura e 10 a 15 cm de diâmetro sobre o qual será afixada uma casinha com de 30 cm X 40 cm, também de madeira sem paredes e com telhado de alumínio ou folha de PVC para proteger as sementes. O poste deverá ser completamente envolvido com arame farpado desde a base até o topo de forma a evitar que os gatos ou mesmo ratos e gambás possam subir até a casinha.
         No assoalho da casinha serão colocados os comedouros plásticos contendo as sementes (uma mistura com cerca de 50% de alpiste, 10% de milho alvo, 10% de aveia, 10% de nabão e 20% de quirera de milho). Esta mistura deverá ser investigada periodicamente de forma a se descobrir a preferência da clientela alada e então adequar as sementes que a comporão. As sementes mais ricas em gordura como a aveia, a linhaça e o girassol deverão entrar em maior proporção durante o inverno.
         Os comedouros plásticos deverão ser lavados diariamente da mesma forma que os alimentadores de beija-flores, sendo também ideal a utilização de dois conjuntos para o revezamento.

         Comedouro plástico tipo lanterna fixado sobre estaca

         A casinha com os comedouros poderão também ser suspensos por um fio nos galhos de uma árvore, com um sistema de roldanas que torne fácil suspender e baixar a casinha diariamente para a troca das sementes e limpeza.
         Existem no comércio especializado alimentadores para colocação de sementes, construídos de plástico em formatos variados. Têm a desvantagem de exigirem um abrigo contra as chuvas, ou a construção de um telhado de alumínio ou PVC encaixado no fio que fixa o comedouro na árvore.
         O mesmo sistema de fios suspensos em um galho poderá ser utilizado para a colocação de banheiras com água, que também deverá ser trocada diariamente ou mesmo duas vezes ao dia durante o verão.

         Comedouro plástico tipo lanterna pendurado na acácia.

          Para as aves frutívoras como sabiás, sanhaços e saíras o sistema utilizado é o mesmo descrito para as granívoras, sendo então colocados pedaços de frutas (banana, mamão, goiaba, laranja, etc.) nos comedouros plásticos.
         As aves de alimentação onívora como os bentevís (Pitangus), siriris (Tyrannus), lavadeiras mascaradas (Fluvicola), pica-pau-anão (Picumnus) sempre estarão por perto, e podemos adicionar um comedouro em uma das casinhas contendo larvas do besouro da farinha (Tenebrio molitor) ou mesmo minhocas que serão avidamente disputadas por todos os comensais sejam eles insetívoros, frutívoros ou granívoros.

         Bebedouro para beija-flor e bandeja de aramecom frutas.

          Muitas aves utilizam cavidades naturais para fazerem seus ninhos. Buracos nos troncos das árvores, saliências entre as rochas, enquanto outras constroem os ninhos nos galhos das árvores, utilizando os mais diversos materiais na construção. A proximidade do homem fez com que as aves também aprendessem a aproveitar as oportunidades de novos locais para ninhos, como por exemplo, as caixas de correio, as saídas de água das chuvas nos muros das casas construídas próximo às encostas dos morros e os vãos entre as telhas e os caibros dos telhados. Em função desta capacidade de aproveitar novos locais para nidificação podemos fornecer às aves algumas opções a mais em nossos jardins e quintais. Materiais como cascas de coco vazias, pedaços de canos de PVC, pedaços de bambu aberto em um dos lados e mesmo casinhas de madeira preparadas com esta finalidade. Novamente é importante oferecer segurança às aves durante o período de choco e criação dos filhotes, providenciando para que os ninhos artificiais estejam protegidos contra as chuvas e contra os ataques de predadores.



         É importante lembrar que uma vez iniciado este processo de atração ele jamais deverá ser interrompido de forma brusca, pois poderá provocar mortalidade entre as aves que frequentam este ambiente. Se por qualquer motivo for necessário parar de alimentar e fornecer abrigo para as aves no jardim ou quintal, seja por falta de tempo ou mesmo por haver cessado o interesse, é importante que o processo transcorra de forma lenta, reduzindo gradualmente a oferta de alimentos e água de forma que as aves se afastem naturalmente.
  


Môsar Lemos