1º. DE
SETEMBRO DE 2018
DIA
INTERNACIONAL DE CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE OS URUBUS
Anualmente,
no primeiro sábado do mês de setembro é comemorado o “Dia Internacional de
Conscientização sobre os Abutres
Pelo
mundo afora ocorrem eventos visando despertar nas pessoas interesse por essas
aves mal compreendidas no seu papel de guardião da saúde pública.
Todos
já viram a cena nas estradas: vários urubus disputando o cadáver de um cão que
foi atropelado. A principio parece ser uma cena repugnante, mas se refletirmos
um pouco entenderemos o grande serviço que aquelas aves estão prestando.
Urubus-de-cabeça-preta comendo uma carcaça à beira da rodovia
Urubus
são feios porque têm a cabeça pelada? Mas a evolução mostrou que uma cabeça
pelada é mais eficiente no controle de doenças quando a introduzem dentro de
uma carcaça de bovino, por exemplo, e de lá vão removendo as vísceras. Os
restos com seus microrganismos potencialmente patogênicos que ficam aderidos na
cabeça são mais facilmente destruídos pelos raios solares. Uma cabeça emplumada
tornaria mais difícil a eliminação dos patógenos. Tudo tem uma explicação!
Se
analisarmos a distribuição espacial dos abutres e a quantidade de subprodutos
humanos que eles consomem, perceberemos que as atividades humanas necessitam da
manutenção de grandes populações dessas aves. Os abutres fornecem um serviço
ambiental chave (gratuito) ao consumirem aproximadamente 25% dos resíduos
orgânicos produzidos anualmente nas cidades.
Quando
falamos em urubus pensamos imediatamente no urubu-comum, todo preto, pulando desengonçado
no chão em torno do cadáver. Parece uma dança macabra (para ouvir a obra “Danse
Macabre de Saint Saens” vá no youtube = https://www.youtube.com/watch?v=YyknBTm_YyM
).
No
Brasil existem cinco espécies de urubus e a ocorrência ainda polêmica do
Condor-dos-Andes na região do rio Jauru em Cáceres (MT), e notícias do Paraná.
O
cineasta sueco Arne Sucksdorff informou ao ornitólogo Helmut Sick a ocorrência de
condores em uma ilha fluvial chamada “Ilha dos urubus”, no Rio Jauru.
No
século passado, na década de 20, um indivíduo foi abatido por militares nos
arredores do extinto Parque Nacional de Sete Quedas, em Guaíra/PR, fato
relatado pelo Almirante Ibsen de Gusmão Câmara, segundo o ornitólogo Fernando
Straube.
Condor-dos-Andes (Vultur gryphus)
Todos
os urubus (ou abutres do Novo Mundo) pertencem a família Cathartidae.
Dos
urubus brasileiros, três espécies ocorrem em Niterói. O urubu-de-cabeça-preta, o urubu-de-cabeça-vermelha e o urubu-de-cabeça-amarela.
As outras duas espécies: o urubu-rei e o urubu-da-mata não tem registro de ocorrência em nossa cidade, até o momento.
Urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus)
Urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura)
Urubu-de-cabeça-amarela (Cathartes burrovianus)
Urubu-rei (Sarcoramphus papa)
Urubu-da-mata (Cathartes melambrotos)
UM MEDICAMENTO UTILIZADO NO GADO ACABA MATANDO OS URUBUS
O problema foi identificado inicialmente na Ásia. Alta mortalidade foi registrada em diversos pontos da India, Paquistão e planícies do Nepal. A causa um anti-inflamatório muito utilizado em miosites e artrites não infecciosas em bovinos e bubalinos, graças a sua potenta ação analgésica. Ocorre que quando esses animais morrem durante o tratamento o farmaco permanece nos tecidos durante algum tempo, e os abutres que se alimentam dessas carcaças morrem muito rapidamente, de falência renal aguda. O Diclofenaco ainda é considerado como um dos contaminantes ambientais mais devastadores.
Como os achados de necropsia estão associados com a gota visceral e articular, duas hipóteses tentam explicar o que ocorre. A primeira aponta como causa uma isquemia dos tubulos contornados proximais, devido à necrose aguda daquelas estruturas. Já a outra sugere que ocorre uma redução da excreção do ácido úrico que acaba se acumulando nos tecidos.
Desde a
publicação de um estudo na revista Nature que identificou o Diclofenaco como causa
de morte de abutres em 2004, Índia, Nepal e Paquistão baniram a produção e
comercialização da droga em seus territórios, mas apenas para o uso
veterinário, como uma forma de evitar a mortalidade desnecessária dos abutres.
O
diclofenaco é autorizado para uso veterinário no Brasil desde os anos 1990,
para aplicação em bovinos, suínos e equinos. A restrição é para cães e gatos,
para os quais o diclofenaco é altamente tóxico. Os abutres do gênero Gyps não
ocorrem no Brasil e por enquanto ainda não há registro de problemas de
intoxicação com os nossos urubus.
Peço que se encontrarem alguma incorreção ou sugestões entrem em contato através do blog.
CRÉDITOS
Vocalizações
Os urubus não têm a sirtinge como as outras aves. Dessa forma a vocalização limita-se a grunhidos roucos e até um pouco assustadores. Para ouvir veja os links abaixo.
Imagens
Bibliografia
BERNHARD GRZIMEK. Grzimek’s Animal life encyclopedia.
Volume 7. Birds I. 1975. Van Nosthrand Reinhold Company.
EURICO
SANTOS. Zoologia Brasílica. Volume 4. Da ema ao beija-flor. 1979. Editora
Itatiaia Ltda.
HELMUT
SICK. Ornitologia Brasileira. 1997. Editora Nova Fronteira.
LESLIE BROWN. Birds of prey their biology and ecology.
1976. The Amlyn Publishing Group
OLIN SEWALL PETTINGILL JR. Ornithology in laboratory and field. 1970. Burghess Publishing Company.
RODOLPHE MEYER DE SCHAUENSEE. A guide to the birds of
South America. 1982. The Academy of Natural Science of Philadelphia.