terça-feira, 23 de dezembro de 2025

A SURURINA-DA-SERRA

 A SURURINA-DA-SERRA

            A sururina-da-serra é um inhambu descoberto recentemente na Amazônia, no Parque Nacional da Serra do Divisor, no oeste do Acre, Brasil.

Figura 1 - Sururina-da-serra  Foto Luís Morais - O Eco.


         Os inhambus são aves da família Tinamidae (Ordem Tinamiformes), muito conhecidos como aves de caça, estando alguns membros da família ameaçados em maior ou menor grau. Nomes como Inhambu Chororó, Chintã, Tururim, Macuco, Jaó, Perdiz, Codorna entre outros, são conhecidos por muitos brasileiros que residem ou residiram em áreas rurais pelo Brasil afora, além é claro dos ornitólogos de profissão que vasculham o país em busca de conhecer melhor a nossa avifauna. Não podemos esquecer aqueles que não sendo ornitólogos ou mesmo não tendo nenhum vínculo profissional com as Ciências da Natureza, são apaixonados pelas aves e dedicam parte do tempo livre em clubes de observadores de aves ou mesmo sozinhos para ver ou apenas ouvir um canto, muitas vezes desconhecido.

                OBS: A codorna brasileira (Tinamídeo) não é a mesma codorna comercial produtora de ovos para consumo, que é uma ave pertencente a ordem Galliformes, originária do Japão.

            Foi exatamente um canto diferente que levou o Biólogo Fernando Igor de Godoy a percorrer um caminho que o levou ao descobrimento de Tinamus resonans, a Sururina-da-serra. 

            No mundo da Ornitologia a descoberta de novas espécies não é muito comum. Geralmente acontece quando um pesquisador está estudando alguma espécie ou gênero, e manuseando as peles nas coleções dos museus tem sua atenção voltada para um detalhe estranho em uma das peles, e percebe que aquela ave não é exatamente a mesma representada naquela coleção. Começa a investigar mais detalhadamente e chega à conclusão que se trata de uma subespécie ou mesmo uma espécie nova, ou seja, que ainda não foi descrita pela ciência.  

Podemos usar como exemplo, o caso do falconídeo Micrastur mintoni, descoberto por Andrew Whittaker em Caxiuanã no estado do Pará, em outubro de 1997.  Ele estava procurando Micrastur gilvicollis, e ouviu uma vocalização diferente daquelas conhecidas para outros Micrastur. Gravou a voz fez um playback e conseguiu ver a ave. A partir daí começou a buscar explicações. Foi ao Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém e analisou 35 espécimes atribuídos a Micrastur gilvicollis, e concluiu que os espécimes podiam ser separados em dois tipos de plumagem distintos. 12 exemplares correspondiam a M. gilvicollis, e 23 eram idênticos às características que observara na ave de Caxiuanã, ou seja, era outra espécie que vinha sendo tratada como M gilvicollis.

Com a disponibilização das técnicas de sequenciamento, começaram a surgir novos casos semelhantes.

Entretanto no caso da sururina-da-serra, não havia registros, gravações ou peles em museus. Era algo realmente novo para ciência. Como nosso país ainda é desconhecido!

A  AVE

A cabeça da Sururina-da-serra apresenta uma máscara cinza-ardósia escuro, enquanto o peito tem uma coloração castanha avermelhada e o dorso é pardo uniforme. O bico apresenta a maxila escura e mandíbula clara com a ponta escura. O tarsometatarso é azulado. Os olhos são escuros. Este padrão não aparece em nenhum outro tinamídeo conhecido. Mede cerca de 30 cm de comprimento e pesa aproximadamente 340 gramas.

O canto também é peculiar, com potentes notas longas, em sequências com cerca de 50 segundos. 

A gravura produzida pelo Fernando Igor compara a Sururina-da-serra com o Tururim (Crypturellus soui), o Inhambú-anhangá (C. variegatus) e o Inhambú-carijó (C. brevirostris). O Tururim também é chamado de Sururina e Canela-parda.


Fifura 2. Gravura Inhambus - Fernando Igor
* Sururina-da-serra; ** Tururim; *** Inhambu-anhanga; **** Inhambu-carijó

Para saber mais sobre o assunto consulte:

Reportagem em O ECO

https://oeco.org.br/reportagens/no-isolamento-da-floresta-um-canto-poderoso-revelou-uma-nova-especie/

 Artigo ZooTaxa

https://mapress.com/zt/article/view/zootaxa.5725.2.6/57819