O Projeto Jacutinga
A jacutinga (Aburria jacutinga) é uma espécie
globalmente ameaçada, endêmica da Floresta Atlântica. Como consequência da caça
e perda de habitat, a jacutinga está extinta na maior parte de sua área de
distribuição original nos estados do Rio de Janeiro, Espirito Santo e Bahia.
Originalmente a jacutinga ocorria do sul da Bahia até o Rio Grande do Sul,
norte da Argentina e Paraguai. A jacutinga é frutívora, utilizando pelo menos
40 espécies de frutos da floresta atlântica, como o palmito-juçara, a embaúba,
as caneleiras, pitanga, bicuíba, entre outras.
Jacutinga se alimentando na floresta. Foto de Marco Silva
A jacutinga está submetida
a constante ameaça e declínio substancial das populações através dos anos.
Entretanto, existem vários programas que tem obtido sucesso na reprodução dessa
espécie em cativeiro, representando uma oportunidade para a reintrodução e
reforço de populações estabelecidas em áreas preservadas. A época reprodutiva da
jacutinga parece concentrar-se da primavera, podendo, entretanto iniciar mais
cedo em agosto e prolongar-se até janeiro. As fêmeas põem em média 3 ovos
[2-4], brancos, que são incubados durante aproximadamente 28 dias. Quando os
filhotes completam um mês de vida já são capazes de voar.
Um destes projetos,
“Conservação de Aves Cinegéticas na Floresta Atlântica Brasileira: Reintrodução
e Monitoramento da Jacutinga”, foi iniciado em 2010 pelo grupo SAVE Brasil,
parceiro do Bird Life International. Este projeto visa implantar programas de
reintrodução e monitoramento da jacutinga, aumentando as populações através do
manejo em cativeiro e liberação de indivíduos, visando melhorar o status de
conservação da espécie.
O projeto Jacutinga
iniciou em 2010 quando um censo realizado na Serra do Mar, no estado de São
Paulo, enfocando as famílias Cracidae (jacutingas, jacus, mutuns, aracuans) e
Tinamidae (Inhambús, codornas, perdizes, jaós, macucos), encontrou apenas um
individuo de Aburria jacutinga ao longo de 160 km de transectos,
durante um ano de trabalho. Este primeiro censo revelou que as populações da
espécie estão altamente comprometidas e a beira da extinção na área pesquisada.
Um novo censo populacional foi realizado em 2015 na Serra da Mantiqueira, com
resultado negativo, pois nenhum individuo foi encontrado na região. Com base
nestes resultados, medidas de manejo, como o reforço populacional, foram
consideradas urgentes para a conservação das populações em longo em prazo.
Os viveiros de adaptação e
reabilitação foram construídos na Reserva Ecológica do Guapiaçu (REGUA), município
de Cachoeiras de Macacu, no Estado do Rio de Janeiro e na Serra da Mantiqueira
no Estado de São Paulo. Os viveiros com aproximadamente 15 metros de
comprimento, 8 metros de largura e oito metros de altura foram construídos
dentro da Floresta Atlântica, de forma a permitir que as aves exercitem o voo e
se acostumem com o ambiente da área de soltura.
Viveiro de adaptação. Foto de Ricardo Boulhosa
Em março de 2016 um grupo
de jacutingas oriundo do criadouro da CESP (Companhia Energética de São Paulo)
foi transferido para as instalações de reabilitação da Serra da Mantiqueira,
onde durante três meses as aves treinaram voar e receberam treinamento relativo
ao reconhecimento de predadores e alimentação. Além disso, foi fortalecida a
interação social entre os indivíduos e as características do seu comportamento
natural.
Finalmente em junho de
2016, as nove primeiras jacutingas foram reintroduzidas na Serra da Mantiqueira.
Atualmente estas aves são monitoradas via satélite através de transmissores,
visitas de campo, e com a participação da comunidade local, através do
encorajamento da observação de aves. Uma semana após a soltura, um residente
local reportou a presença de uma jacutinga em uma propriedade a 1 km dos
viveiros de reabilitação. Este macho foi avistada próximo aos viveiros 6 dias
após a soltura, e estava acompanhado de umas das fêmeas reintroduzidas.
Ave portando transmissor via satélite. Foto de Ricardo Boulhosa
Os resultados são
animadores, já que as jacutingas parecem estar se adaptando e interagindo bem
com o ambiente natural. Além do indivíduo que foi avistado longe do recinto, os
outros também têm sido vistos na floresta alimentando-se das frutas nativas.
Um ponto importante do
projeto é a educação ambiental. Desde 2015, já foram realizadas mais de 40
atividades educativas envolvendo quase 1.200 pessoas. Além disso, foram
realizadas nove oficinas de capacitação de mais de 100 professores de escolas
públicas da região.
Iniciativas como essa
fazem pensar que ainda há esperanças.
Leia na íntegra a
reportagem de Alice Reisfeld (em inglês) no site do Bird Life International.