segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

OS GALOS SELVAGENS

OS GALOS SELVAGENS

 O galo-vermelho-das-florestas (Gallus gallus), também chamado de galo de Bankiva, e que existe ainda hoje em estado selvagem nas florestas da Ásia (Índia, China, Tailândia, Vietnam, Java e Sumatra).


 Participaram também da formação das raças domésticas o galo-verde-das-florestas de Java e Sumatra (Gallus varius).


O galo de Lafayette (Gallus lafayettii) do Sri Lanka.


O galo Sonnerati da Índia (Gallus sonnerati).

A teoria de Darwin sustenta que todas as raças de galinhas domésticas hoje conhecidas se originaram dos galos selvagens.
Todas estas quatro espécies ainda existem em estado selvagem e são consideradas ameaçadas. Todas também são criadas em cativeiro como aves ornamentais.

O CANÁRIO LIZARD

O CANÁRIO LIZARD

Môsar Lemos 

O CANÁRIO LIZARD
O Lizard é a raça mais antiga de canários domésticos e que não sofreu alterações na sua forma. Apareceu no princípio do século XVI na França sendo, ao que parece, fruto do cruzamento de um canário comum verde com outra espécie de  Serinus. Pode ter sido fruto de cruzamentos entre o canário comum e o canário listado, natural das terras altas da Tanzânia, cuja aparência é muito semelhante à do atual canário Lizard, tanto no desenho dorsal como peitoral. Pode também ter aparecido com cruzamentos entre um canário comum e um serzino também chamado de chamariz, ou milheirinha, Serinus serinus, que surgiu no Velho Continente, vindo da África, nos finais do século XIX, apresentando-se ainda hoje com fenótipos variados. Esta espécie aparece por vezes na natureza, com muitas características semelhantes às do atual Lizard nomeadamente com listas no peito e uma aproximação de escamas dorsais. Estes traços poderiam ter sido selecionados ao longo dos anos, pois do cruzamento entre canários e serzinos resultam descendentes férteis. Assim, possivelmente, temos o Lizard fruto de um cruzamento entre canário comum e canário listado da Tanzânia, ou um serzino. Talvez mais a hipótese de um cruzamento entre canário comum verde com algum serzino Africano. A hipótese de cruzamento com o Canário Listado da Tanzânia é pouco provável, pois estesSerinus vivem a grandes altitudes e povoam áreas acima dos 2000 metros. A Tanzânia era uma colônia Inglesa e os primeiros Lizards surgiram na França. Os Lizards, sem se saber por que, apareceram na França com intuito lucrativo, sendo levados para Inglaterra em meados do século XVI quando da divergência entre católicos e protestantes. Então, na Inglaterra o chamado "Comun French Canarie" tomou a designação de LIZARD, comparado a um lagarto, devido ao desenho das suas penas. Esta raça foi a única que se manteve inalterável ao longo do tempo. A revolução industrial no Século XIX e a melhoria da qualidade de vida deram em Lancashire oportunidade aos operários da indústria têxtil de criar canários como hobby. Para o canário Lancashire e também para o canário Lizard foi formado o primeiro clube especializado a "ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES LANCASHIRE E LIZARD". Esta associação sobreviveu até 1939, quando a 2ª guerra mundial explodiu. O Lizard, embora tão estimado por todos os criadores, sem se saber por que, começou a rarear estando quase extinta após a 2ª grande guerra. Foi após a guerra que vários criadores experientes, a partir de um reduzido número de casais, conseguiram a continuidade da raça. Hoje em dia encontra-se Lizards por todo o Mundo, existindo associações dedicadas a esta raça de canários, nomeadamente na Inglaterra, proporcionando exposições e concursos exclusivos da raça. Há muitos mistérios para solucionar neste belo passarinho como o caso do schimel ou neve. A ave apresenta manchas brancas nos bordos das penas e mesmo penas brancas, que aparecem no 2º ano de vida e também durante o 1º ano se perder penas, o que se deve evitar. Por que este fenômeno?  É um bom desafio. Outro seria conseguir-se Lizards sem cúpula, que ao se cruzarem, dessem garantidamente Lizards sem cúpula e este fator fosse constituinte do genótipo. Assim e com o propósito de assegurar o futuro do Canário Lizard, compete aos criadores difundi-lo, com o intuito de melhorar a raça e torná-la acessível a todos os que a desejarem criar.
 
 O canário LIZARD dourado.

 O canário LIZARD prateado

A DOENÇA DE MAREK


A DOENÇA DE MAREK




A doença conhecida como neurolinfomatose, doença do olho cinza ou doença de Marek é uma doença viral das aves provocada por um vírus da família Herpesviridae, e que acomete as galinhas domésticas, com relatos de sorologia positiva e lesões sugestivas em outras espécies de aves.
            Trata-se de uma doença linfoproliferativa contra a qual existe vacinação, fato extremamente raro nas neoplasias. Manifesta-se sobre diversas formas, porem todas elas associadas a proliferação de linfoblastos, sendo a forma paralitica a mais comum, com acometimento dos nervos periféricos geralmente unilateralmente, produzindo uma sintomatologia conhecida como “posição de bailarino”, pois a ave se apresenta com uma perna distendida para trás e outra para frente. O nervo mais comumente afetado e o isquiático que se torna espessado com duas a três vezes o seu diâmetro normal e com alteração na coloração que de creme claro se torna acinzentado.  Outros nervos podem ser afetados, como por exemplo, o nervo vago, o que determina o aparecimento do “papo pendulo”, ou o nervo braquial provocando paralisa da asa.

            Quando ocorre o acometimento do olho, a infiltração de linfoblastos e outras células provoca uma descoloração da Iris que se torna cinzenta (a iris das galinhas geralmente é amarela ou alaranjada) e uma irregularidade no contorno da pupila, que perde sua forma circular, podendo progredir ate a cegueira.



            Podem ocorrer também tumores na pele na região dos folículos das penas, o que provoca no caso de frangos de corte, a condenação das carcaças devido ao aspecto repugnante que se estabelece.



            Nos órgãos viscerais podem aparecer infiltrados e aumento no volume que em alguns caso como no baço pode levar a ruptura com hemorragia, as vezes fatal. Os tumores podem também ser vistos no fígado, ovários, intestinos,etc.





            O vírus se replica no epitélio do folículo da pena e através do processo de descamação natural é liberado no ambiente junto com a poeira e partículas em suspensão sendo então inalado por aves suscetíveis que poderão ou não desenvolver a doença. O estado de infecção permanece e o vírus continua a se multiplicar e se disseminar no ambiente.
            A vacinação e a única forma de proteger as aves contra a doença, já que a mesma não tem cura depois de estabelecida, e deve ser feita no primeiro dia de vida do pintinho antes que ele tenha contato com outras aves e ambientes contaminados pelo vírus. A vacinação é feita através de injeção subcutânea na pele do pescoço em dose única. Existem diversas vacinas disponíveis no mercado sob a forma liofilizada ou congelada.  A produção de vacinas contra a doença de Marek foi um marco na historia da medicina e chegou-se a pensar na época que seria possível controlar o câncer humano com o uso de vacinas.
            A doença foi descrita pela primeira vez em 1907 pelo Dr Joszef Marek como uma paralisia parcial em galos, na Hungria. Posteriormente a doença recebeu o nome do pesquisador como uma homenagem ao seu trabalho.


            Um aspecto interessante da doença de Marek é que ela é capaz de induzir aterosclerose em galinhas, servindo estas aves como modelos experimentais desta condição patológica em seres humanos.

VACINAS E VACINAÇÕES

Vacinas e vacinações
Môsar Lemos

Introdução

Uma das formas de proteger o plantel de combatentes contras as doenças é através do uso consciente de vacinas. As vacinas sozinhas não são capazes de evitar o aparecimento de um surto de doença no criatório, pois elas representam uma parte do programa de prevenção sendo as boas práticas de manejo, limpeza e desinfecção tão importantes quanto um bom programa de vacinação.

O que são as vacinas?

Podemos definir uma vacina como um produto biológico produzido a partir de vírus, bactéria ou mesmo um protozoário e que seja capaz de induzir na ave uma resposta imunológica que a proteja de uma infecção com aquele bioagente.
            A imunidade é a capacidade que o organismo tem de suportar e se defender contra a invasão de um bioagente. A imunidade pode ser ativa ou passiva, natural ou artificial. Ela é ativa quando o organismo da ave recebe estímulos para produzir anticorpos podendo ser natural quando a ave adquiriu a infecção, ou artificial quando a ave é vacinada. A imunidade é passiva quando a ave já recebe os anticorpos prontos, sendo natural quando o pintinho recebe os anticorpos maternos que o protegerão nos primeiros dias de vida, ou artificial quando é feito um tratamento com soro hiperimune (soroterapia).
            Podemos dizer então que a vacinação é a indução de imunidade ativa de forma artificial, contra um determinado bioagente.
As vacinas podem ser vivas ou mortas, dizendo-se que estão atenuadas, pois os danos que produzirão no organismo da ave serão mínimos, ou que estão inativadas e, portanto incapazes de produzir danos ao organismo. Existem vantagens e desvantagens inerentes aos dois tipos de vacinas. Veja a tabela 1.
            As vacinas podem ser aplicadas de forma individual, ou seja, uma ave de cada vez, ou de forma massal para todo o lote de aves de uma só vez.

Métodos Massais

A utilização de vacinas por métodos de aplicação em massa tem sido de grande utilidade para a avicultura comercial, que trabalha com grandes lotes, por facilitar os processos, aplicando grandes volumes de vacina em menor tempo e com um número reduzido de pessoas. Entretanto também pode ser utilizada com sucesso nas pequenas criações de raças combatentes. Para algumas doenças a via spray pode vir a ser utilizada desde que se trabalhe com uma gota bem grossa (acima de 150µm). Para Newcastle e Bronquite deve-se trabalhar com gotas em torno de 50 a 100 µm nas primeiras vacinações; e para Micoplasma usar gotas mais finas. Em aves acima de 6 semanas de idade usar gotas menores que 50 µm.
Os métodos massais de aplicação de vacinas requerem uma grande atenção às normas de utilização.  O sucesso vai depender dos cuidados no preparo e aplicação dos produtos, pois não é possível garantir que todas as aves receberam a dose correta de vacina. Somente o procedimento adequado permitirá que toda a população receba uma boa cobertura vacinal.
A vacinação através de spray é mais utilizada em grandes lotes na avicultura industrial, não sendo muito adequada para as pequenas criações de combatentes.

Água de bebida

Preparação da vacina
Suspender o uso de desinfetantes (cloro, amônia ou medicamentos) na água de bebida pelo menos 24 h antes da vacinação, não utilizando recipientes metálicos, e adicionar 2g de leite em pó desnatado por litro de água a ser usada para a vacinação, visando estabilizar e homogeneizar a solução.
Identificar corretamente o produto a ser usado, através do rótulo e da cor do liofilizado, abrindo o frasco de vacina removendo o selo de alumínio e a tampa de borracha e adicionar aproximadamente 3 ml de água limpa. Em seguida fechar o frasco com a tampa e agitar bem para reconstituir o liofilizado. Não tampar com o dedo. Utilizar recipientes plásticos com o volume total de água preparada para a vacinação e adicione a vacina reconstituída, enxaguando várias vezes o frasco de vacina a fim de evitar perdas. Para melhor avaliação da vacinação, utilizar o corante apropriado que permite a identificar as aves que beberam o preparado vacinal, pois ficam com o bico e a língua de coloração azulada.
Procedimento para Vacinação:
Vacinar em horários mais frescos do dia (início da manhã ou no final da tarde), fazendo jejum hídrico nas aves de meia a uma hora em climas quentes e 1 a 2 horas em climas frios. Lavar os bebedouros com água limpa e deixá-los sem resíduos de sabão ou desinfetante, e distribui-los de forma que pelo menos 2/3 das aves bebam ao mesmo tempo. Observar se todas estão bebendo, se não está havendo amontoamento e se os bebedouros estão bem distribuídos, de foram que a solução vacinal seja consumida em no máximo 2h e nunca em menos de 1h. Suspender o uso de medicamentos, cloro ou desinfetantes na água de bebida durante pelo menos 24h após a vacinação.

Métodos Individuais

Os métodos individuais de vacinação são aqueles em as doses vacinais são aplicadas ave a ave. Esse método tem a vantagem de garantir que cada ave receba a dose necessária de vacina para sua imunização, entretanto demanda mais tempo para aplicação.
As vacinas inativadas, só podem ser aplicadas pelos métodos individuais, já que são produtos injetáveis. E a vacina forte contra Bouba, tem como via solicitada a punção na asa, não tendo opção pelo método massal.

Vacinação ocular, nasal ou oral

Preparo da vacina:
Identificar os produtos a serem utilizados, através do rótulo. Tanto a vacina quanto o diluente devem estar armazenados à temperatura de 2 a 8º C. Reconstituir o liofilizado com o diluente apropriado, transferindo aproximadamente 3 ml do diluente para o frasco da vacina. Agitar suavemente. Devolver a vacina já diluída para o frasco de diluente, enxaguando o frasco do liofilizado várias vezes. Colocar o bico dosador no frasco com a vacina diluída, sem encostar os dedos na ponta do bico. Utilizar um material isolante entre o frasco com a vacina e a mão para evitar o aquecimento do produto. Colocar os frascos utilizados durante a aplicação em uma caixa com gelo, antes que aqueçam e com o cuidado para que toda a vacina reconstituída seja aplicada num período de duas horas.
Preparo do ambiente e vacinação:
Escolher horários mais frescos do dia para dar início à vacinação. Após a vacinação, soltar a ave com cuidado. Quando usar a via nasal, fechar uma das narinas com o dedo e instilar a gota na outra narina. Observar a absorção da gota de vacina antes de soltar a ave. A dose correta de vacina é de 0,03 ml, o que corresponde a uma gota. Observar a posição correta do aplicador na vertical para manter a uniformidade da dose. Somente utilizar aplicadores em boas condições.
Todos estes procedimentos são idênticos para as aplicações ocular, nasal e oral, diferindo apenas no local de instilação da gota de vacina, no olho, narina ou bico, respectivamente, conforme a via escolhida.

Via membrana da asa:

Preparo da vacina e vacinação:
Reconstituir o liofilizado de vacina com o diluente apropriado. Mergulhar somente as agulhas duplas do aplicador na vacina diluída, tendo cuidado de não molhar  a parte plástica do aplicador. Com o aplicador na posição vertical, perfurar a membrana da asa pela parte de baixo. Retirar as penas do local de aplicação na asa da ave, antes de introduzir as agulhas. Observar a presença de vasos, nervos e ossos na aplicação, para não atingi-los. Utilizar um aplicador para no máximo 1000 aves. Agitar o frasco de vacina com frequência durante a aplicação. Observar se houve “pega” da vacina 7 a 10 dias após a vacinação. Uma boa vacinação deve apresentar entre 90 a 100% de “pega” com lesões de grau variável.

Via injetável (subcutânea ou intramuscular)
Preparo do equipamento:
Utilizar material (agulhas e seringas) esterilizado por fervura ou autoclave. Não usar desinfetantes no equipamento; Regular as vacinadoras na dose indicada e conferir antes da vacinação. Usar agulhas de tamanho único (10X10). Trocar as agulhas com frequência durante a vacinação.

Subcutânea:
Aplicar a vacina no terço médio do pescoço, com a agulha em direção ao corpo da ave. A pele deve ser levantada formando um bolsão onde deve ser introduzida a vacina. Evitar aplicação intradérmica.

Intramuscular:
Pode ser aplicada no músculo do peito ou da coxa da ave. A aplicação no peito deve ser feita na região lateral a quilha, com a introdução da agulha formando um ângulo de 45º, evitando atingir as vísceras. A aplicação na coxa deve ser feita na parte central da região lateral do músculo, evitando ossos, vasos e nervos.

Observações:
As vacinas oleosas não devem ser aplicadas geladas, portanto é recomendada a sua retirada do refrigerador pelo menos 24 h antes da aplicação. As sobras de vacinas nunca devem ser utilizadas, pois não existe mais garantia de qualidade do produto depois de aberto. As vacinações injetáveis podem ser avaliadas através de necropsia de aves de descarte, para observação da correta aplicação.
Um calendário de vacinação funciona como um roteiro e deve ser modificado de acordo com a necessidade do local. Ocorrência de surtos ou inexistência de casos das doenças devem servir de base para a tomada de decisão de quais vacinas utilizar e quando utilizá-las. Na dúvida busque auxílio de um Médico Veterinário especialista em aves.

Tabela 1. Vantagens e desvantagens das vacinas atenuadas e inativadas.
Tipo
Vantagens
Desvantagens


A
Conferem imunidade local, humoral e de mucosa.
Necessitam pouca massa antigênica
Induzem rápida produção de anticorpos.
Permitem várias vias de aplicação.
Riscos de reversão à patogenicidade e disseminação de patógenos estranhos.
Menor uniformidade e duração dos títulos.
Risco de ocorrência de reações pós-vacinais.



I
Sem riscos de reversão e disseminação do agente.
Resposta imune mais uniforme e duradoura
Mais estáveis durante a armazenagem
Menor risco de interação do agente vacinal com outros que possam provocar reações pós-vacinais
Geralmente exigem “primers”.
Mecanismo de proteção celular e de mucosa fracos ou inexistentes.
Necessitam maior massa antigênica.
Exigem aplicação individual.
Legenda: A = Atenuada (viva); I = Inativada (morta).



Referências bibliográficas

BERCHIERI JUNIOR, A; MACARI, M. Doenças das aves. 1 ed. Campinas: FACTA, 2000, 505p. 
BIOVET, Técnicas de Administração de Vacinas Avícolas, Informativo Técnico, Brasil, 1992
CALNEK, B. W (ed). Diseases of poultry. 10 ed. Iowa: Iowa State University Press, 1997, 1080p.
REVOLLEDO, L; FERREIRA, A. J. P (orgs). Patologia aviária. 1 ed. São Paulo: Editora Manole, 2009, 510p.
RITCHIE, B. W; CARTER, K. Avian viruses function and control. 1 ed. Florida: Wingers Publishing, 1995, 515p.
RITCHIE, B. W; HARRISON, G. J; HARRISON, L. R. Avian medicine: principles and application. 1 ed. Florida: Wingers Publishing, 1994, 1384p.
SOLVAY ANIMAL HEALTH, Inc. VAX FACTS. Informativo Técnico. EUA, 1994
THRUSFIELD, M. Epidemiologia Veterinária. 2 ed. São Paulo: Editora Roca, 2004, 556p.


DO ASIL AO CHESTER: UMA HISTÓRIA GALINÁCEA

DO ASIL AO CHESTER: UMA HISTÓRIA GALINÁCEA

Môsar Lemos
Introdução
            Na correria diária a carne de frango é atualmente uma opção para muitas pessoas no preparo das refeições. Além do preço acessível, a facilidade de preparo e a disponibilidade da ave congelada em cortes de peito, coxas e asas, é um atrativo que levou a carne de frango a posição de carne mais consumida no Brasil, com uma média de 40 Kg por pessoa por ano. Entretanto a maioria das pessoas desconhece o longo caminho percorrido pela galinha até chegar ao franguinho congelado na gondola do supermercado. A maioria nem lembra que o bicho tem penas.


O Asil Rajah Murghi
            O Asil pode ser considerado a maior joia da criação indiana, especialmente o Rajah-Murghi ou galo do Rajá. Sob o nome Asil são identificadas na Índia inúmeras castas de galos que apresentam mais ou menos o mesmo tipo, quer em conformação anatômica, quer em qualidades para combate. A origem da palavra é árabe e significa um alto grau de nobreza. Podemos definir Asil como denominação para uma única raça, entretanto existem inúmeras linhagens que apresentam muitos pontos em comum. O genuíno Rajah-Murghi é de pequena estatura e seu peso não vai muito além de 2,5 Kg. São de bela aparência e possuem todos os requisitos indispensáveis para serem considerados os melhores combatentes do mundo. Combatem até a morte, possuindo resistência sobrenatural ao castigo e golpeiam com extrema precisão.
A raça Asil Rajah Murghi originária da Índia é uma das mais antigas do mundo e contribuiu com seus genes para a raça Cornish, sabidamente a base genética para a formação do moderno frango de corte. De baixa estatura, musculatura do peito larga e coxas grossas o macho pesa cerca de 3,0 kg e é conhecido como um “buldogue” de penas.

Macho da raça Asil Rajah Murghi, de plumagem pintada (preto e branco). Bico curto, ausência de barbelas proeminentes, pele da cara enrugada (conhecido como cara de sapo), tarso metatarso com três fileiras de escamas ao invés de duas, conferem a esta raça algumas características especiais.
Extremamente resistente esta raça é utilizada na Índia e em outros países pelo mundo afora como galos de combate, em sua forma pura ou em cruzamentos com outras raças às quais confere resistência e força muscular e uma capacidade de suportar os castigos infligidos pelo adversário de forma estóica jamais abandonando o campo de peleja.

A raça Cornish
Estas características fizeram com que os fenícios, hábeis navegadores e comerciantes, levassem o Rajah Murghi em seus navios em suas longas viagens. Costumavam deixar algumas aves nos povoados que visitavam de forma a garantir que quando retornassem pudessem encontrar aves disponíveis para comerciar. Ocorreu que em uma dessas viagens galos Asil Rajah Murghi foram deixados na região da Cornualha, Inglaterra, onde foram acasalados pelos moradores locais com as galinhas da terra. Nesta época já havia na Inglaterra o protótipo do Old English Game, uma raça banquivóide, utilizada como ave combatente. O cruzamento do Asil com estas galinhas deu origem ao que é hoje a raça Cornish, pesada, musculosa, com plumagem enxuta, com boa carcaça ideal para ave de mesa. Acredita-se que a formação do Cornish atual contou com a participação dos genes da raça Malaia. A raça Cornish variedade Dark também é conhecida como “Combatente Indiano”, embora o nome Cornish seja o mais correto. Uma característica que distingue a Cornish é o fato do corpo do macho e da fêmea apresentar a mesma conformação. A crista tem a forma de feijão. A textura das penas é outra característica marcante na raça. A plumagem do corpo deve ser adequadamente encaixada, com penas curtas, duras e perfeitamente estreitas. 


Acima macho da raça Cornish na variedade Dark. O corpo é compacto e musculoso, as pernas são curtas como no Asil, entretanto a cauda ligeiramente vertical mostra a presença do sangue banquivóide. Observa-se na fêmea abaixo um padrão corporal semelhante ao do macho, característica herdada do Asil.




A Cornish Dark foi admitida ao “American Poultry Association Standard of Perfection (APASP)” em 1893.   A Cornish White foi produzida a partir do cruzamento da Cornish Dark com o Malaio Branco em 1890, e admitida ao APASP em 1898.   A Cornish Laceada Vermelha e Branca foram produzidas na América em 1898, a partir do cruzamento da Cornish Dark com o Shamo Japonês e transformou-se em uma variedade padrão em 1909. A Cornish foi desenvolvida como uma ave definitiva para a produção de carne e tem contribuído com seus genes para constituir a vasta indústria do frango de corte do mundo, sendo apreciada em função de sua grande quantidade de carne branca de textura refinada. Seu desenvolvimento e distribuição muscular dão uma excelente conformação de carcaça. Tem a pele de coloração amarela e põem ovos de casca marrom. Os galos chegam a pesar 5,250 kg e as galinhas em torno de 4,0 kg. A Cornish tem um corpo amplo e bem musculoso. Suas pernas são bem separadas e de diâmetro considerável. Os olhos aprofundados, fronte projetada e bico forte ligeiramente curvado dão à raça uma expressão mais ou menos cruel. Os machos são frequentemente agressivos, e os pintinhos tendem a ser mais canibais que outras raças. Uma boa Cornish é uma ave sem igual e impressionante para ser admirada. As penas são curtas e bem assentadas ao corpo e podem apresentar algumas áreas de pele nua. Precisa de uma proteção adequada nos meses mais frios, pois suas penas apresentam menor isolamento que o observado na maioria das outras raças. Devido à conformação, normalmente a fertilidade é baixa e algumas linhagens exigem inseminação artificial. São aves atletas que necessitam de espaço para exercitar e desenvolver a musculatura. Os machos velhos acabam tendo problemas nas pernas se não se exercitam adequadamente. As fêmeas entram em choco, mas apesar de serem boas mães, são muito ativas para serem boas chocadeiras, e a plumagem escassa dificulta a ave cobrir os ovos.
Sob o ponto de vista de seleção e melhoramento para a produção avícola é de fundamental importância que estas duas raças sejam preservadas pelo maior número possível de criadores, como bancos de material genético.
O frango-de-corte
Com o advento da avicultura industrial a busca por uma ave com capacidade de produzir muita carne em curto espaço de tempo levou a formação do moderno frango de corte que atinge os 2,5 kg aos 42 dias de idade, através de um árduo trabalho de melhoramento genético que teve com base a raça Cornish.
O Chester
O Chester foi desenvolvido pela empresa Perdigão na década de 70 como forma de abocanhar uma fatia do mercado de aves grandes no período das festas natalinas, já que a empresa Sadia mantinha o monopólio da comercialização de perus no Brasil. Ao contrário do que muita gente pensa o Chester não é um monstro sem pés e sem cabeça que se arrasta pelo chão enquanto engorda assustadoramente. O Chester nada mais é que uma linhagem de frango de corte com características próprias para competir com o peru. Enquanto as linhagens convencionais de frango de corte (COBB, etc) atingem 2,5 kg de peso aos 42 dias de idade, o Chester é capaz de chegar aos 4,0 kg com 65 dias. O seu nome vem da palavra inglesa “chest” (peito), em função de uma das principais características da ave que é uma grande massa muscular peitoral. As avós da nova linhagem chegaram ao Brasil em 1979, porém o Chester só começou a ser comercializado em 1982, após um intenso trabalho de seleção e cruzamentos entre as linhagens importadas. Hoje, 30 anos depois, o Chester é uma opção rotineira tanto na época do Natal, como fora dela, e muitas vezes ao lado do peru na mesma mesa.
Viu? Não é nenhum monstro! É um frangão grande e gordo!