Cracídeo preto e branco de tamanho médio, com cerca de 70 cm. Principalmente preto. Grande mancha branca nas coberteiras das asas, com pontas pretas nas coberteiras menores e medianas. Coroa e nuca branca, e testa preta. Borda branca no pescoço e nas penas na parte superior do peito. Anel perioftálmico branco azulado. Grande barbela vermelha com a base azul na garganta. Bico azul pálido com a ponta preta. Pernas avermelhadas.
No geral, a jacutinga parece um peru magrinho, que anda pelos galhos das árvores. Passa a maior parte do tempo perambulando e comendo frutas, embora seja uma forrageira oportunista, capaz de capturar pequenos invertebrados. Costumam concentrar-se em árvores frutíferas.
A voz soa como delicados assobios nasais aflautados. Produz um chacoalhar de asa duro semelhante a uma máquina, durante as exibições territoriais.
A jacutinga tornou-se
bastante rara nos últimos anos. Restrita à floresta atlântica do sudeste do
Brasil e regiões adjacentes da Argentina e Paraguai, a espécie diminuiu
significativamente devido à perda de habitat e à caça.
O desflorestamento parece ser a causa preponderante na redução drástica das populações da jacutinga, estimada hoje em cerca de 7000 indivíduos adultos em toda sua área de ocorrência, embora a caça seja apontada como a principal causa de desaparecimento da jacutinga. Quanto mais reduzida a floresta, menores são as chances de reprodução e mais favorável à caça furtiva.
Pode habitar as florestas úmidas de baixadas, mas ocorre nas montanhas costeiras a 900 m, porém com movimentos latitudinais e altitudinais. Habita tanto as florestas primárias como áreas degradadas com florestas jovens com predominância de embabúbas. Já foi encontrada em monoculturas de Pinus. Parece haver uma forte relação da jacutinga com o palmito-juçara (Euterpes edulis), entretanto alguns estudos demonstraram que as jacutingas se alimentam de mais de 40 espécies de frutos e que ocorrem em florestas onde o palmito-juçara está completamente ausente. Também já foram documentados alimentando-se de flores de diversas árvores. Suplementam a dieta comendo invertebrados ao longo dos cursos d'água, e parece obter sal nos musgos que ocorrem nas pedras nas marges dos riachos de floresta.
O período reprodutivo vai de finais de agosto até janeiro e geralmente são postos tres ovos brancos que são incubados por cerca de 28 dias.
Entre 2007 e 2008 foram reintroduzidos na REGUA (Reserva Ecológica do Guapiaçú), no município de Cachoeiras de Macacu (RJ), quarenta indivíduos oriundos do Criadouro Científico CRAX (Roberto Azeredo). Nove indivíduos foram acompanhados com telemetria após a liberação das aves. Antes da reintrodução, as aves passaram por um período de adaptação em viveiro construído no interior da mata. Não houve mais relatos de avistamentos das aves, e algumas carcaças foram encontradas predadas por cães, e restos de aves mortas por caçadores (asas cortadas para retirada do rádio-colar). Em 2010 iniciou-se um programa chamado Programa de Conservação de Aves Cinegéticas da Mata Atlântica: Reintrodução e Monitoramento de Jacutingas (Aburria jacutinga), mais conhecido como "Projeto jacutinga", conduzido em 2 fases.
A Fase I (2010-2013) do programa confirmou a raridade da jacutinga na Região da Serra do Mar e a necessidade de um reforço populacional urgente a fim de evitar a extinção local da espécie, considerada Criticamente Ameaçada (CR) de extinção pela lista de animais ameaçados no estado de São Paulo e Em Perigo (EN) de acordo com a lista Nacional de dezembro de 2014. Permaneceu na categoria EN na lista de 2018. No estado do Rio de Janeiro a espécie está extinta, tendo sido avistada pela última vez em 1978 no PARNA Itatiaia e em 1980 na Serra dos Órgãos; o que levou à extensão do programa de reintrodução da ave para a Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA), no município de Cachoeiras de Macacu, estado do Rio de Janeiro.
A Fase II (2014/2018) visou a reintrodução e monitoramento de jacutingas na região da Serra da Mantiqueira em São Francisco Xavier, em áreas próximas ao Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Caraguatatuba/São Paulo e na REGUA, no estado do Rio de Janeiro. Entre 2016 e 2018 foram soltas 12 jacutingas na Serra da Mantiqueira e 6 na Serra do Mar.
Quando da minha última visita à REGUA em fevereiro de 2020 (antes da COVID se alastrar) não logrei avistar nenhuma jacutinga. Infelizmente. Mas isso não significa que elas não estejam por lá! Não conheço as outras áreas do projeto.
Para ouvir vocalizações da jacutinga:
https://www.xeno-canto.org/species/Pipile-jacutinga
REFERÊNCIAS:
CHRISTINE S. S. BERNARDO, HUW LLOYD, FÁBIO OLMOS, L. F. CANCIAN, MAURO
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reintroduction programs: a 2-year case study from the Brazilian Atlantic
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CHRISTINE S. S. BERNARDO,
PAULO RUBIM, RAFAEL S. BUENO, RODRIGO A. BEGOTTI, FERNANDA MEIRELLES, CAMILA I.
DONATTI, CAROLINA DENZIN, CARLA E. STEFFLER, RENATO M. MARQUES, RICARDO S.
BOVENDORP, SABRINA K. GOBBO e MAURO GALETTI. Density
estimates of the black-fronted piping guan in the brazilian atlantic
rainforest. The Wilson Journal of Ornithology, v.123, n.4, p.690-698, 2011.
CHRISTINE S. S. BERNARDO, HUW LLOYD, NICHOLAS BAYLY, MAURO GALETTI.
Modelling post-release survival of reintroduced Red-billed Curassows Crax
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CHRISTINE S. S. BERNARDO, NICHOLAS LOCKE. Reintroduction of red-billed
curassow Crax blumenbachii to Guapiaçu Ecological Reserve, Brazil. Conservation
Evidence, v.11, p.7-7,
2014.
FRANCISCO
MALLET-RODRIGUES, JOSÉ FERNANDO PACHECO. The
local conservation status of the regionally rarest bird species in the state of
Rio de Janeiro, southeastern Brazil. Journal of Threatened Taxa, v.7, n.9,
p.7510-7537, 2015.
MAURO GALETTI, PAULO
MARTUSCELLI, FÁBIO OLMOS E ALEXANDRE ALEIXO. Ecology
and conservation of the jacutinga (Pipile
jacutinga) in the Atlantic Forest of
Brasil. Biological Conservation v.82, p.31-39, 1997.
https://www.iucnredlist.org/species/22678429/132049346
https://birdsoftheworld.org/bow/species/bfpgua1/cur/introduction
Será que receberei aviso de comentário no e-mail, conforme solicitei? O que estará acontecendo?
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