domingo, 1 de maio de 2016

OS CANÁRIOS


OS CANÁRIOS


Môsar Lemos

A AVE
            O canário doméstico atual originou-se do canário selvagem (Serinus canaria) pássaro nativo das ilhas Canárias e sua domesticação ocorreu há mais de 400 anos. Alguns historiadores acham que no século XIV e outros no século XV.
É certo que os espanhóis conquistaram as ilhas Canárias em 1478 e a introdução do canário na Europa deve-se a eles.
            Acredita-se que em 1573 um navio espanhol vindo das ilhas Canárias com destino ao porto de Livorno na Itália, afundou próximo à ilha de Elba. O capitão do navio percebendo a eminência da tragédia lançou toda a carga ao mar e ordenou que fossem libertados os pássaros que eles traziam das ilhas Canárias. Desta forma os canários selvagens colonizaram a ilha de Elba e se reproduziram aos milhares. É interessante o fato de que aquelas aves nunca migraram para o continente.
            Atraídos pelo belo canto daqueles passarinhos, comerciantes holandeses e italianos começaram a capturar as aves para vende-las no continente. Iniciou-se assim a canaricultura, a princípio com aves trazidas pelos comerciantes e posteriormente, devido à facilidade com que as aves se reproduziam em cativeiro, com o estabelecimento de criações domésticas e mais tarde com grandes criações comerciais. Logo o canário existia aos milhares espalhados pelos diversos países da Europa.
            Os cruzamentos consangüíneos favoreceram o aparecimento de mutações, não só na cor das aves, mas também no porte e conformação, algumas delas verdadeiras aberrações e deformidades que foram fixadas pelo homem, constituindo novas raças. São exemplos o Gibber italicus, o Bossu belga, o Scotch fancy, o Hoso japonês, que na realidade são canários corcundas.
            O cruzamento de exemplares de maior porte permitiu o aparecimento de raças gigantes como o Lancashire (23 centímetros) e o Yorkshire (18 centímetros).
            Alterações na plumagem permitiram a fixação de raças com as penas enroladas (frisadas), como o Frisado holandês e o Frisado parisiense, e raças com adornos de plumas na cabeça (topetes), como, por exemplo, o Gloster corona ou bonés, como nos canários Lizard.
            Algumas raças reúnem varias destas mutações, apresentando corcunda e penas enroladas como o Frisado holandês do sul; penas enroladas e topete como o Padovano.
            Os canários selvagens são basicamente verdes com tons de cinza e amarelo, e um pouco menores que nossos canários atuais, que devem medir cerca de 13 centímetros. As mutações foram aparecendo de forma espontânea, e foram então fixadas através de cruzamentos.
            Um fato marcante na canaricultura foi o aparecimento do fator vermelho na plumagem, obtido através do cruzamento da canária como o macho de pintassilgo da Venezuela (Carduelis cucullatus), também conhecido como Tarim da Venezuela, passarinho de pequeno porte e de intensa coloração vermelha e preta. Esta hibridização ocorreu na Alemanha em 1926, e com gerações F1 férteis a cor vermelha foi fixada nos canários.
            O canário ainda existe em sua forma selvagem em Tenerife e Gram Canária, tendo desaparecido em boa parte de sua área de distribuição original. Existe em grande número, talvez maior que em Tenerife e Gram Canária, na ilha da Madeira onde foi introduzido.

SISTEMÁTICA:
                                   Classe: AVES
                                   Superordem: CARINATAE
                                   Ordem: PASSERIFORMES
                                   Subordem: OSCINES
                                   Família: FRINGILLIDAE
                                   Gênero: SERINUS
                                   Espécie: Serinus canaria

O CANÁRIO NO BRASIL:
                                  
            Provavelmente o canário ROLLER chegou ao Brasil em 1920 pelas mãos de criadores gaúchos, e segundo os canaricultores o responsável pela primeira importação foi o criador Carlos Nogueira da cidade de Pelotas. Em 1930 foi fundada a primeira associação de criadores de canários no Brasil; a SPCC (Sociedade Pelotense de Criadores de Canários). Desta data em diante a criação de canários foi ganhando adeptos gradualmente, e hoje existem cerca de 100 associações de criadores de canários espalhadas pelo Brasil, congregando mais de 10.000 criadores, que produzem cerca de 1.200.000 filhotes anualmente.
            No Estado do Rio de Janeiro pelo menos cinco associações de criadores de canários estão ativas: a ACCN (Associação dos Criadores de Canários de Niterói), a UNCC (União Nacional dos Criadores de Canários), a CRAC (Canaricultores Roller Associados Cariocas), a 3C (Centro de Criadores de Canários) e a AICC (Associação Independente dos Criadores de Canários de Volta Redonda).
            Como os primeiros canários importados eram oriundos da Bélgica, a raça Roller ficou mais conhecida popularmente como canário belga, o que não condiz com a realidade já que o Roller foi desenvolvido na região de Harz na Alemanha, por volta de 1860 e se tornou conhecido mundialmente após a exposição de 1900 na cidade de Leipzig na Alemanha, apresentados por Henri Seiffer, que os havia selecionado para cantar. Isto foi conseguido de tal forma que os exemplares apresentados na exposição custavam cinqüenta vezes mais que os outros canários vendidos na mesma feira.
            Aos canários criados sem critério e produtos de cruzamento de diversas raças e linhagens, os criadores dão o nome de “PINDORGA”, que significa canário sem raça definida e, portanto de menor valor, embora alguns exemplares cantem muito bem e sejam chamados de “canário belga”.

AS DIVERSAS RAÇAS DE CANÁRIOS:

            Os canários domésticos modernos estão classificados dentro de três grupos distintos, embora todos eles pertençam à mesma espécie: Serinus canaria. São conhecidos como canários de canto clássico, canários de porte e canários de cor. Além destes três grupamentos existem os híbridos do canário com outras espécies selvagens, destacando-se os híbridos com o tarim da Venezuela (Carduelis cucullatus), e com o pintassilgo português (Carduelis carduelis). Este último bastante valorizado no Brasil e conhecido pelo nome de Pintagol. O híbrido com o pintassilgo do nordeste brasileiro (Carduelis yarellii) e o pintassilgo do sul do Brasil (Carduelis magellanicus) também tem sido obtido com certa facilidade.
            Os canários de canto clássico são três: o Timbrado espanhol, o Malinois belga e o canário de Harz (Roller).
            Nestes canários o importante é a qualidade do canto, não sendo avaliados detalhes da plumagem ou porte da ave.
            Existem pelo menos vinte e três raças de canários de porte, também conhecidos como canários de forma, tipo ou postura ( postura aqui referida no sentido de posição, não tendo relação com a postura de ovos como nas galinhas poedeiras). Para estas aves o que se busca é a perfeição nos padrões específicos de cada raça, independente das cores da plumagem.

1.    Border fancy.
2.    Gloster fancy.
3.    Gibber italicus.
4.    Lizard.
5.    Yorkshire.
6.    Topete alemão.
7.    Norwich.
8.    Lancashire.
9.    Frisado suíço.
10. Bérnois.
11. Raza espanhola.
12. Hoso japonês.
13. Münchener.
14. Bossu belga.
15. Frisado holandês do sul.
16. Fife fancy.
17. Padovano ou Frisado de topete.
18. Scotch fancy.
19. Frisado holandês do norte.
20. Crest.
21. Crest-bred.
22. Milanês ou Frisado de cor.

Os canários de cor constituem um universo à parte, onde além dos aspectos morfológicos dos canários os padrões de cores são rígidos, orientando os acasalamentos e a maneira como as cores se expressam na plumagem dos canários.
            A nomenclatura oficial de cores da Confederação Ornitológica Mundial admite 316 variações diferentes, dentro de quinze grupos e 39 classes distintas.
            A nomenclatura oficial da Confederação Ornitológica Mundial para o hemisfério sul é mostrada a seguir.

NOMENCLATURA OFICIAL DA CONFEDERAÇÃO ORNITOLÓGICA MUNDIAL

GRUPO
COR
CLASSE
I

AMARELO
1.     Amarelo dourado
2.     Amarelo limão
3.     Amarelo nevado
II
VERMELHO
4.     Vermelho intenso
5.     Vermelho dominante
III
BRANCO
6.     Branco recessivo
7.     Branco dominante
IV
MOSAICO
8.     Todos da linha clara separadamente por variedades de cores
V
MARFIM
9.     Todos da linha clara
VI

VERDE
10.   Verde dourado
11.   Verde limão
12.   Verde nevado
VII
COBRE
13.   Cobre vermelho intenso
14.   Cobre vermelho nevado
VIII
AZUL
15.   Azul intenso
16.   Azul nevado
IX


AGATA
17.   Ágata dourado
18.   Ágata limão
19.   Ágata nevado
20.   Ágata vermelho intenso
21.   Ágata vermelho nevado
22.   Ágata prateado
X


CANELA
23.   Canela dourado
24.   Canela limão
25.   Canela nevado
26.   Canela vermelho intenso
27.   Canela vermelho nevado
28.   Canela prateado
XI


ISABELINO
29.   Isabelino dourado
30.   Isabelino limão
31.   Isabelino nevado
32.   Isabelino vermelho intenso
33.   Isabelino vermelho nevado
34.   Isabelino prateado
XII
MOSAICO
35.  Todos da linha escura separadamente por variedade de cor
XIII
MARFIM
36.  Todos da linha escura
XIV
OPAL
37.  Todos conjuntamente
XV
MESTIÇOS
38.   Híbridos F1 (Tarim)
39.   Híbridos F1 (Outras espécies)


Os canários de cor são agrupados de acordo com a presença ou não do lipocromo e da melanina, que são os dois únicos pigmentos utilizados pelos canários na formação de suas cores. Apenas dois tipos de lipocromos se depositam na plumagem dos canários: o amarelo e o vermelho. O lipocromo amarelo existe nas sementes comuns, tais como alpiste, colza, níger e pode ser armazenado no organismo da ave, especialmente na pele e tecido adiposo. Já o lipocromo vermelho, que não pode ser armazenado no organismo dos canários, existe nas cenouras, beterrabas, algas marinhas e carapaças de alguns crustáceos que geralmente não fazem parte da dieta normal dos canários. Desta forma deve ser oferecido artificialmente para a fixação da cor vermelha nestas aves.A melanina é produzida no próprio organismo da ave e se apresenta de coloração negra ou marrom.
            A Ordem Brasileira dos Juízes de Ornitologia através da Federação Ornitológica do Brasil divide os canários de cor em dois grandes grupos: os melânicos e os lipocrômicos, normalmente chamados pelos criadores de linha clara e linha escura. Além disto os canários são também dividos em canários “com fator” e canários “sem fator”, referência a presença ou não do fator vermelho (lipocromo vermelho) herdado do pintassilgo da Venezuela. Desta forma todas as 316 apresentações de cores dos canários estão inseridas dentro destes quatro grupos: 1) Linha clara sem fator; 2) Linha clara com fator; 3) Linha escura sem fator e 4) Linha escura com fator.
            A presença do fator INO nos canários, determinando o aparecimento de olhos vermelhos, por ausência de pigmento, criou as seguintes denominações: ALBINO para canários brancos de olhos vermelhos, LUTINO para canários amarelos de olhos vermelhos e RUBINO para canários vermelhos de olhos vermelhos.

AS CORES CLÁSSICAS DOS CANÁRIOS

LINHA
COR



CLARA SEM FATOR
Branco
Branco dominante
Amarelo intenso
Amarelo nevado
Amarelo mosaico
Amarelo marfim intenso
Amarelo marfim nevado



CLARA COM FATOR
Vermelho intenso
Vermelho nevado
Vermelho mosaico
Vermelho marfim intenso
Vermelho marfim nevado
Vermelho marfim mosaico






ESCURA SEM FATOR
Azul
Azul dominante
Verde intenso
Verde nevado
Canela amarelo intenso
Canela amarelo nevado
Canela prateado
Ágata amarelo intenso
Ágata amarelo nevado
Ágata prateado
Isabelino amarelo intenso
Isabelino amarelo nevado
Isabelino prateado




ESCURA COM FATOR
Cobre intenso
Cobre nevado
Canela intenso
Canela nevado
Ágata vermelho intenso
Ágata vermelho nevado
Isabelino vermelho intenso
Isabelino vermelho nevado






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